Deu na Imprensa local:
Em reportagem de afiliada da Globo, família denuncia defeito de fabricação de carro da GM e clama por Justiça
João Negrão
Cuiabá (MT)
A TV Centro América, afiliada da Rede Globo em Cuiabá, veiculou na manhã desta quinta-feira (19.02)
reportagem sobre o drama da família que perdeu três de seus membros na explosão de um Vectra em agosto de 1999. A matéria, levada ao ar no Bom Dia Mato Grosso, mostra que a General Motors, fabricante do veículo, foi condenada pela Justiça de Mato Grosso porque houve falha na fabricação do modelo. A juíza Amini Haddad Campos, da 9ª Vara Cível de Cuiabá, condenou a montadora a indenizar os parentes e determinou que a GM comunicasse o consumidor sobre os riscos com o modelo Vectra.
A reportagem da Centro América mostrou depoimento do senhor Heronides de Aquino Araújo Filho e da senhora Edda Araújo. Eles são filhos de Heronides de Aquino Araújo e de Ítala Pedemonte Araújo e irmãos de Antonio Salvino Pedemonte Araújo. Os três morreram carbonizados junto com Maria Dometila Pinto Gusmão, quando o Vectra explodiu próximo a Barra do Garças, para onde a família ia visitar parentes. Dona Edda também estava na viagem, mas deixou o veículo em Primavera do Leste quando a família decidiu diminuir o peso do carro tiram parte da bagagem.
Dona Edda, junto com o motorista da família, seguiram viagem em outro veículo dos Araújo com a bagagem que restou. Eles trafegavam alguns quilômetros atrás e passaram pelo Vectra em chamas e os corpos carbonizados no asfalto. O motorista percebeu que o acidente era com a família, mas nada revelou a dona Edda. Seguiram direto para Barra do Garças, onde o motorista mobilizou familiares e assistência médica para dona Edda, que a essa altura dos acontecimentos já percebia que algo de errado havia acontecido com seus pais e irmão.
De acordo com laudo técnico apresentado à Justiça, a explosão do Vectra foi ocasionada por falha no sistema de distribuição de combustível. Outras denúncias semelhantes já foram feitas. Somente em Cuiabá, mas dois casos de incêndio de Vectra ocorreram. Um deles foi no bairro Cidade Alta, no dia 23 de novembro do ano passado, quando um Vectra de propriedade de Vicente Ferrati explodiu na casa de seu filho. Desde seis meses após a compra do carro, em 1999, o proprietário começou a notar vários problemas, entre os quais um forte cheiro de gasolina. "Entrei em contato com a concessionária, foram trocadas peças e de nada adiantou. Depois apareceu o tanque rachado. Então notifiquei judicialmente da GM, que não me atendeu. Resolvi deixar o carro na garagem", relatou.
O outro caso aconteceu na Usina Termelétrica de Cuiabá, na época administrada pela norte-americana Enron. Foi em 2001, quando um dos diretores estacionou o Vectra no pátio da empresa e, poucos minutos após deixar o carro, houve a explosão. A atual diretoria da empresa nega a existência do acidentes, mas ex-funcionários que presenciaram e até ajudaram a apagar o fogo, confirmam.
Mais outro caso aconteceu em Poconé, mas depois de um acidente no dia 10 de agosto, também do ano passado, na Rodovia MT060, também noticiado pela TV Centro América. Na época três pessoas morreram no Vectra que explodiu após bater de frente com uma caminhonete.
Pelo menos 23 explosões com o Vectra foram registradas nos últimos dez anos. Uma tabela elaborada pelos advogados das vítimas revela que a maioria deles aconteceu sem nenhum motivo aparente. Ou seja, os veículos explodiram estacionados ou trafegando, mas sem envolvimento em acidentes. Há casos também catalogados de clientes que conseguiram reparar os problemas de distribuição de combustíveis, evitando sinistros. Mas há ainda casos em que mesmo com reparos os carros pegaram fogo, mas a montadora acabou firmando acordo e entregando um outro veículo zero para o cliente lesado.
Mesmo com essas denúncias de ocorrências, a GM se nega a realizar recall do Vectra. No Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), órgão da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, existe uma Procedimento Administrativo apurando a recusa da montadora de realizar o recall. Depois de analisar as denúncias e ouvir a versão da fábrica – que alega nunca ter recebido reclamação de clientes -, o DPDC enviou o caso para o Grupo de Estudos Permanentes de Acidentes de Consumo (GEPAC).
O envio da ação para o GEPAC é a última etapa do procedimento administrativo. O Grupo é composto por representantes do Ministério Público Federal de São Paulo, do Ministério Público Estadual de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal, Procon de São Paulo e Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC). Esta instância é que vai concluir se a GM errou ao não convocar o recall e aplicar as sanções cabíveis.